A banda passou por uma fase de luto, como seria de esperar, e depois tentou se reestabelecer. Tarefa difícil, já que Wander não era apenas um guitarrista, mas um grande compositor e figura das mais carismáticas na cena musical nacional.
Além disso, os remanescentes Lee Marcucci (baixo), Gel Fernandes (bateria) e Maurício Gasperini (voz) acabaram se desentendendo no meio do caminho. Gel e Lee seguiram em frente com novos integrantes a agora acabam de colocar no mercado mais um DVD ao vivo, chamado "3 Décadas ao Vivo", acrescido de uma porção de faixas novas.
Toda essa fase conturbada e também a nova formação foram tema de um longo papo com Gel Fernandes no fim do mês de março, que você confere logo abaixo.
Novas músicas, novos músicos
“Conseguir um cara para substituir o Wander foi difícil, demorou. A gente queria um cara que fizesse o que o Wander fazia. Mas para as músicas novas tinha que ser um cara que fosse capaz de criar. Um cara que soubesse valorizar as composições”, contou Gel sobre a busca de um novo guitarrista. “Um amigo me indicou o Gabriel Navarro. No primeiro dia que marcamos um ensaio eu vi que ia dar certo”.
Sobre o vocalista, Fábio Nestares, Gel conta: “Eu já tocava com ele em outra banda, de covers, para curtição”. Já o tecladista, Flávio Fernandes, toca com o Radio Taxi há dois anos. Ele é sobrinho de Gel.
Antes do DVD a banda ficou apenas três meses ensaiando e acertando as versões. Parece mais, devido ao entrosamento que se nota assistido ao material, mas Gel minimiza: “As músicas antigas já estavam prontas, mudamos poucas coisas, bastava os novos integrantes tocarem”. Quem toca sabe que não é bem assim. Foi a sintonia entre os integrantes o que permitiu que o resultado ficasse tão bom.
Os novos músicos não participaram da composição das novas faixas, uma vez que estas já estavam prontas, mas suas ideias e talentos foram mais do que aproveitados nos arranjos: “Eu e o Lee sabíamos que tínhamos que dar espaço para eles - O Fabio, o Flávio e o Gabriel - pois eles são novos, têm ideias novas e isso é importante. Mesmo nas músicas antigas”.
A ideia era modernizar, sem perder a personalidade: “Não precisava tocar as mesmas notas do Wander, mas como os solos são conhecidos, precisava deixar com a mesma cara. Pode ser mais moderno, mas sem perder a identidade. Quando ele e o tecladista colocavam um timbre muito diferente eu e o Lee ouvíamos e, às vezes, achávamos que estava muito fora. Outras vezes, não.”
Gel Fernandes considera importante que os novos integrantes participem das próximas composições, pois têm muito a oferecer: “Eles são novos, conhecem um monte de coisas novas, bandas que eu nunca ouvi falar”.
A escolha de lançar um DVD e não um disco de inéditas se deu por causa do formato permitir maior maleabilidade: “A gente estava muito tempo sem gravar. Se fosse fazer um disco tinha que ter todas inéditas. A gente estava mais a fim de fazer um DVD, misturar novas e velhas”.
Passado e histórias curiosas
Sobre as novas músicas, aliás, Gel conta que algumas não são exatamente novas. “Limosine”, por exemplo, tem uma história curiosa: “Ela tem uma história legal. Era 83 ou 84 e nosso disco já estava pronto e o Marcos Maynard, produtor, sugeriu fazer a versão de uma música que estava estourada na Europa. A gente não queria. Mas ele insistiu. O disco já estava até mixado, pra você ter uma ideia”.
“Pela insistência, a gente resolveu gravar. Se ficasse ruim, a gente não colocaria no disco. Era ‘Eva’. Quando gravamos achamos que ela ficou mais legal do que em italiano, que era o original. O problema é que para por ‘Eva’ no disco tinha que tirar uma música. A gente podia ter somente acrescentado e um dos lados ficaria com seis músicas. Mas, sabe como funciona o vinil? Quanto mais músicas têm, mas tem que espremer os risquinhos, e corre o risco de a agulha pular no disco. Sem contar que diminui a qualidade quando tem mais músicas. Não foi fácil escolher qual iríamos tirar. Foi ‘Limosine’”. “Limosine” ganhou um arranjo novo, uma nova gravação e foi parar nesse novo DVD.
“Nova Geração” também não é uma canção nova. Nem inédita. Ela está no disco “Matriz” e ganhou uma versão modernizada para o lançamento e, segundo Gel, foi escolhida pois sua “letra continua atual”.
As demais, de fato novas, mantém a identidade do Radio Taxi e Gel explica: “Continuamos com as mesmas referências, então a base é a mesma. Além disso, não teria sentido mudarmos completamente o som. Seria outra banda”.
Relembrando o passado e os sucessos, Gel contou outra história interessante. Ela envolve o ‘hit’ “Coisas de Casal”, música de autoria de Rita Lee e Roberto da Carvalho.
Na época de seu lançamento, a canção ganhou um arranjo feito por Lincoln Olivetti que foi criado na hora, no estúdio. “Ele ouviu a música uma única vez, sentado no chão. Quando acabou de ouvir ele levantou e perguntamos se ele queria ouvir de novo. Ele disse ‘não’, e foi lá e tocou a música e fez o arranjo”, contou Gel.
A banda adorou, mas na hora de reproduzir ao vivo, ninguém sabia como fazer. “Ligamos pro Lincoln Olivetti e ele disse que não lembrava, pois inventou na hora. Tivemos que mandar a música para ele tirar e lembrar como fez. Aí ele mandou pra gente, o arranjo escrito, e a gente guardou direitinho para nunca perder”, lembrou com saudosismo o baterista.
Desavenças, brigas e cobranças
Como não é difícil imaginar, as cobranças em cima da nova formação vieram com força. Substituir o Wander e ainda seguir com outro vocalista provocou reações. Gel chegou a ouvir que estava dando um tiro no próprio pé: “O que eu ia fazer? Ficar com um cara chato [referindo-se a Gasperini] e chamar o outro do além [falando de Wander]? Vou buscar ele como? O dia que eu conseguir eu chamo”.
O problema com o vocalista Maurício Gasperini foi mais complicado. Até fofocas envolve, com o vocalista achando que havia sido tirado da banda quando na verdade Gel e Lee nunca haviam cogitado isso.
Os músicos estão brigados atualmente. As brigas se passaram principalmente na internet e nas redes sociais. Um show na Virada Cultural, em 2009, chegou a ser desmarcado. Segundo Gel, Maurício leu na internet que estaria fora da banda e isso deu início a uma série de discussões e desentendimentos que cresceram a ponto de envolver advogados.
Maurício chegou a fazer shows usando o nome Radio Taxi, coisa que hoje está legalmente proibido de fazer. “Sou eu quem paga pelo nome Radio Taxi há trinta anos. Não quero ninguém queimando o nome da banda”, completa Gel.
“Muita gente ficou me cobrando, desejando que eu me desse mal”. E o músico foi contundente: “Para essas pessoas, eu avisei, ‘Eu faço o Radio Taxi na hora que eu quiser’. Ninguém precisa falar que está demorando muito. Eu faço a hora que eu achar que está legal, que está bom. Eu vou colocar na banda quem eu quiser. Não venham me encher o saco”.
Daqui pra frente
A banda está se organizando para fazer a divulgação do DVD "3 Décadas ao Vivo", que ainda não tem gravadora ou distribuidora, mas a agenda ainda está devagar.
“O DVD é um projeto que fizemos com o ProAC [Programa de Ação Cultural do governo do Estado] junto com a Sociedade da Cerveja que tinha um tempo para ser concluído. Além do DVD havia 13 shows programados em barzinhos. Doze desses shows foram feitos antes do DVD ficar pronto”, conta o baterista.
O futuro da banda, para Gel Fernandes, é continuar tocando e fazendo shows. Mas sem pressa.
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