Tom
Zé faz parte do grupo de músicos intelectuais brasileiros que, além de
agregarem muito à música brasileira, ainda estiveram presentes na luta
contra a ditadura e na consciência política nacional à época. Mas,
dentre esses, Tom Zé tem suas peculiaridades. Pode-se dizer que Tom é um
caso à parte. Antonio José Santana Martins nasceu em Irará, Bahia, em
13 de outubro de 1936.
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Diz ter nascido e crescido na Idade Média, devido
à condição peculiar e precária de sua cidade natal, em relação ao modo
de vida. O português que se falava lá, inclusive, era quase primitivo,
misturado aos dialetos indígenas e africanos. E a linguagem e cultura de
sua terra foram expressas por ele diversas vezes em sua carreira
musical. Tem como uma de suas inspirações artísticas o “homem da mala”,
que eram os mercadores que viajavam de cidade em cidade vendendo seus
produtos, mas que, para isso, faziam verdadeiras performances artísticas
nas praças, atraindo sua clientela das mais criativas maneiras. Foi
durante o ginásio que passou a se interessar verdadeiramente por música.
Nesse período, chegou a fazer aulas de violão e a dedicar-se ao
aprendizado musical. Viria, depois, a cursar a Universidade de Música da
Bahia, na qual ingressou em primeiro lugar. Lá encontrou grandes
professores, como Ernst Widmer, Walter Smetak e Hans Joachim
Koellreutter. O primeiro marco de sua carreira artística foi o
espetáculo “Nós, Por Exemplo II”, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto
Gil, Gal Costa, entre outros, apresentado em Salvador. No ano seguinte,
1968, vieram mais dois fatos importantes em sua carreira.
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Recebeu o
prêmio de primeiro lugar no “IV Festival da Música Popular Brasileira”,
com a canção “São Paulo, meu amor”. Participou da gravação do histórico
disco “Tropicália”/”Panis et circensis”. É um caso a parte entre os
tropicalistas, entretanto, pois foi aos poucos se afastando do
movimento, por diferenças ideológicas, e acabou ficando conhecido como
“Tróstski do tropicalismo”, por ter sido “apagado” do movimento.
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Lançou
seu primeiro álbum apenas em 1973. “Tom Zé ” Grande Liquidação”, que
falava sobre a vida nas grandes cidades brasileiras, e já mostrava que
era um artista diferente. Suas letras eram inteligentes, por vezes
contundentes ou irreverentes, mas bastante particulares. É no seu
trabalho de 1974, entretanto, que ele mostra realmente porque se
diferenciava dos outros. “Todos os olhos”, seu álbum mais polêmico, foi
lançado nesse ano.
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A começar pela capa: o que parece ser um olho
desfocado ou algo assim é, na verdade, uma bola de gude no ânus de uma
modelo. E a música segue a mesma linha, afastando-o dos grandes meios,
como disse o próprio artista ” ou do mainstream, como se diz. Em 1976,
lança o disco que lhe renderia, indiretamente, sua grande fama
internacional. “Estudando o samba”, estranhamente formal, causa certa
perplexidade na crítica nativa. Mas David Byrne, ex-”Talking Heads”,
ouve o disco e se interessa imensamente pelo trabalho do artista. Esse
interesse resultou no lançamento dos trabalhos de Tom Zé nos Estados
Unidos, onde foi sucesso de vendas e de crítica. “The Best of Tom Zé”,
coletânea lançada pela gravadora de Byrne nos anos 90, figura entre os
álbuns mais importantes da década nos EUA. Em 1998, seu disco “Com
defeito de fabricação”, que tem como tema a vida do homem de Terceiro
Mundo, fica entre os 10 álbuns mais importantes do ano nos EUA. Tom Zé
era, então, um músico reconhecido e valorizado internacionalmente e,
dentro do país, as pessoas passavam a mudar a visão que tinham dele,
aceitando melhor suas peculiaridades, ou “esquisitices”, enquanto
artista.
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Nos anos 2000, lançou mais álbuns, publicou um livro sobre a
luta tropicalista, teve um documentário realizado sobre sua vida e
carreira e recebeu diversos prêmios. Continua, à sua forma, na ativa.
Seu mais recente trabalho é de 2012: “Tropicália Lixo Lógico”, produzido
por Charles Gavin. Vê-se que Tom Zé, enquanto músico, artista e pessoa,
nunca teve medo de inovar para se expressar. O diferente não o intimida
e a opinião dos outros não o envergonha. Nunca esteve alheio à
realidade de seu país e do mundo, pelo contrário, sempre buscou
retratá-la em seus trabalhos, com a sua própria visão.
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